Cuiabá Arsenal
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- 18 de mai. de 2018
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Atualizado: 19 de mai. de 2018
O clube de futebol americano pioneiro no estado foi fundado em abril de 2006 por um grupo de amigos que praticavam o esporte no campo central da Universidade Federal de Mato Grosso.
Por João Freitas

Uma brincadeira que deu certo. Assim pode ser definido o Cuiabá Arsenal. O nome da equipe foi uma homenagem ao Arsenal de Guerra, prédio histórico de Cuiabá que hoje é um centro cultural sob administração do Serviço Social do Comércio (Sesc). O clube de futebol americano pioneiro no estado foi fundado em abril de 2006 por um grupo de amigos que praticavam o esporte no campo central da Universidade Federal de Mato Grosso. O hobby se tornou algo mais sério e dois meses depois, o Arsenal disputou sua primeira partida oficial contra o Tubarões do Cerrado, sendo derrotado pelo marcador de 30 a 8.
“Acompanho o esporte desde os anos 1990 e costumávamos praticá-lo todos os sábados na Universidade. Quem passeava nas redondezas do campo achava curioso, afinal, o esporte não é dos mais populares no país. Apesar do contato físico intenso, que chega a assustar dependendo da ocasião, é um jogo extremamente estratégico, que envolve conquista de território”, relata Paulo Machado, um dos amigos do grupo que jogava futebol americano que resultou na fundação do clube.
A equipe contava com uma estrutura que beirava o amadorismo, porém, após uma série de grandes investimentos, o time melhorou a condição de suas instalações e disputou o seu primeiro campeonato brasileiro em 2009.
Um ano mais tarde, o Cuiabá se firmou no cenário nacional. Visto como azarão no início do torneio, o time foi superando os obstáculos e se sagrou campeão do Campeonato Brasileiro de 2010.
Para o quarterback Daniel Pereira, conhecido como Dandan, ganhar o torneio representou muito na sua carreira. “Aquele título foi fundamental para o futuro do clube. Através dele, ganhamos maior visibilidade no estado e também no país, conseguimos apoio de diversas instituições públicas e privadas, sem falar na emoção de ser campeão. Sou um campeão brasileiro. Cravei o meu nome na história do Arsenal”, conta.
O COMEÇO
Até se consolidar como uma das equipes referência no Brasil, o clube passou por muitas dificuldades no início. Sem patrocínio e com o desconhecimento do esporte por parte das pessoas fez com que a equipe tivesse um começo penoso, muitas vezes sofrendo com a falta de equipamentos.
“O início foi um período bem difícil para todos. Como não tínhamos nenhum tipo de apoio financeiro, cada jogador tinha que levar seu próprio equipamento. Os treinos eram feitos no próprio campo central da UFMT, o que despertou a curiosidade de muita gente pelo esporte. O Brasil inteiro na época já vivia o clima de Copa do Mundo, e mesmo assim, conseguimos, de certo modo, inserir o futebol americano nas preferências dos torcedores”, comenta Heron Azevedo que foi um dos primeiros jogadores do time.
Meses depois, o Arsenal realizou sua primeira partida oficial. Os cuiabanos foram a Brasília enfrentar o Tubarões do Cerrado e foram derrotados por 30 a 8. Mesmo com a derrota, o clube seguia evoluindo em estrutura e popularidade.
O CRESCIMENTO E OS TÍTULOS
Com o objetivo de despontar no cenário nacional, o time buscou diversas formas de crescer. Firmou parceria com o Sesi Cristo Rei, onde ocorrem os treinamentos técnicos e das academias Bio Training e Central Fitness, que permitem, aos jogadores mais dedicados, a opção de bolsas para preparação física, além do patrocínio financeiro do Sicredi e da Livraria Janina.

Essa evolução permitiu, pela primeira vez aos cuiabanos, disputar o Campeonato Brasileiro da modalidade, em 2009. Debutando na competição nacional, o Arsenal chegou até as semifinais, quando foi derrotado pela equipe do São Paulo Storm, pelo marcador de 28 a 27. Essa derrota é considerada pelo ex-presidente Orlando Ferreira, que também foi jogador do time, como a mais dolorida da história do Cuiabá. “Foi muito frustrante. Sonhávamos com o título já na temporada de estréia e tínhamos condições para chegar a final. Fomos surpreendidos e perdemos o jogo por apenas um ponto e na prorrogação”, comenta.
Porém o tão sonhado caneco que não veio em 2009, veio em 2010. Após uma temporada perfeita, o Cuiabá viajou até São Paulo e passou por cima do Barigui Crocodiles na grande final, e venceu pelo placar de 49 a 19. “Foi um dia iluminado, tudo o que havíamos planejado deu certo. A derrota de um ano antes nos deu mais força para alcançar aquele momento, e graças a Deus nos tornamos campeões brasileiro.”, conta Orlando.

Após um 2011 sem grandes resultados, o Arsenal voltou a ter uma conquista expressiva no ano seguinte. O Cuiabá venceu todos os jogos e se sagrou bicampeão nacional de forma invicta ao vencer o Coritiba Crocodiles (antigo Barigui Crocodiles) na grande final por 31 a 23, no estádio Eurico Gaspar Dutra, o popular Dutrinha. Orlando conta que aquele foi o melhor momento do clube. “Terminar a temporada com 12 vitórias em 12 jogos é um feito e tanto. O equilíbrio entre as equipes no futebol americano é muito grande, e mesmo assim conseguimos nos mostrar superiores as demais equipes e coroamos aquela temporada com uma vitória épica na final”
O quarterback Dandan, lembra a final de 2012 com alegria. “Cometemos muitos erros ao longo do jogo, mas conseguimos ter brio e sabedoria para reverter o placar e ganhar o campeonato. Ver o estádio vibrando e cantando por um esporte ‘desconhecido’ em boa parte do Brasil é algo que guardarei comigo para sempre”, relembra.
PROJETOS

O Cuiabá Arsenal instituiu a primeira escolinha de Flag em Várzea Grande, no campo do bairro Ipase, próximo ao Aeroporto de Várzea Grande. Em Cuiabá, a modalidade do futebol americano com pouco contato, já existe desde 2013. As escolinhas são conduzidas semanalmente, por profissionais de educação física. Os treinos são montados para ensinar os fundamentos básicos do esporte de maneira gradual, preparando os jovens para competirem de acordo com suas faixas etárias.
“O esporte desenvolve valores, relações interpessoais, trabalho em equipe, inclusão, liderança, respeito ao próximo e disciplina”, disse Higino Gomes, responsável técnico das escolinhas.
O treino será aberto ao público e a idade mínima é oito anos. De acordo com o técnico do Arsenal, Brian Guzman, o flag estimula a prática de atividades físicas entre os jovens e contribui para a formação de melhores cidadãos.“Queremos estar principalmente nas comunidades carentes, levando o esporte como arte da educação dessas crianças e jovens”, analisou.
Para o presidente do Cuiabá Arsenal, Paulo César Machado Ribeiro, ao longo do tempo, as escolinhas deverão servir de base para o desenvolvimento de talentos que venham a fazer parte da equipe de futebol americano de Cuiabá. Ainda no ano passado, o time ajudou a montar uma escolinha nos mesmos moldes em Lucas do Rio Verde.
ESTÁDIO E TORCIDA

O Cuiabá Arsenal costumava realizar seus jogos como mandante no estádio Eurico Gaspar Dutra, localizado no bairro do Centro-Sul, na capital. Porém, com a interdição do Dutrinha por questões de segurança, a equipe tem dividido os seus compromissos em casa entre a Arena Pantanal e o interior do Estado. A média de público nos jogos da equipe gira em torno de 1 a 2 mil pagantes. Números similares e, em alguns casos, até maiores que a média de público de times como Mixto e Luverdense, clubes do futebol “convencional” de Mato Grosso.
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